SONS DA MANHÃ

Notas de vida entram pela janela da sala

Junto com os tímidos raios de sol

De uma manhã ainda incipiente.

Os chilreios e trinares que me acordam

Entoam uma nova canção, portuguesa,

Dos longes da minha infância

Aprendida na cozinha da minha mãe:

Onde esses pássaros a ouviram?

O barulho do motor do carro

Inconfundível depois da inundação

Me dá adeus e se vai

Levando consigo o marido

Para mais uma jornada.

Folhas são varridas

E o risc risc risc recolhe também

Restos da minha solidão

Que teimam em cair diariamente.

Alguém ouve Benito Di Paula

Uma improvável canção

Para meu improvável sorriso

Nesta quarentena.

Vizinhas se cumprimentam

Conversam nas janelas lado a lado

Sem conseguirem se ver.

E compram o pão de cesta

Trazido pelo carreteiro:

Novos hábitos...

Disputo com a Leia

O lugar aquecido do sofá

Ela levanta as orelhas repentinamente

Capta movimentos inaudíveis para mim:

Outros sons de uma manhã

Que teima em acontecer

Sorrateira e normal.

Klara Rakal
Enviado por Klara Rakal em 19/06/2020
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