SONS DA MANHÃ
Notas de vida entram pela janela da sala
Junto com os tímidos raios de sol
De uma manhã ainda incipiente.
Os chilreios e trinares que me acordam
Entoam uma nova canção, portuguesa,
Dos longes da minha infância
Aprendida na cozinha da minha mãe:
Onde esses pássaros a ouviram?
O barulho do motor do carro
Inconfundível depois da inundação
Me dá adeus e se vai
Levando consigo o marido
Para mais uma jornada.
Folhas são varridas
E o risc risc risc recolhe também
Restos da minha solidão
Que teimam em cair diariamente.
Alguém ouve Benito Di Paula
Uma improvável canção
Para meu improvável sorriso
Nesta quarentena.
Vizinhas se cumprimentam
Conversam nas janelas lado a lado
Sem conseguirem se ver.
E compram o pão de cesta
Trazido pelo carreteiro:
Novos hábitos...
Disputo com a Leia
O lugar aquecido do sofá
Ela levanta as orelhas repentinamente
Capta movimentos inaudíveis para mim:
Outros sons de uma manhã
Que teima em acontecer
Sorrateira e normal.