Solidão
Ah! Como a vida só é sossegada
Não há por perto quem chegue, quem parta;
Nem há quem acolher na madrugada.
É uma vida de vazios farta,
Repleta, assim, de nada e de ninguém
Com quem atenção há que se reparta.
Nem mesmo conversar não há com quem,
Sendo o som do silêncio o que reboa
No lar dos que da solidão, refém.
Há quem pense que assim a vida é boa
E outros que a tomem como pena;
Pesar da mão de Deus que nos perdoa.
Aos primeiros é certo que condena
Um atroz egoismo e vaidade,
A deixar de vícios a alma plena.
Aos demais, extremada humildade,
Que aos reclusos espíritos confere
De salvar-se ingênua vontade.
Engana-se quem dela assim infere.
Em verdade, nem prêmio nem castigo;
Solidão é a besta que nos fere
No socorro do patente grão perigo.