Solidão

Ah! Como a vida só é sossegada

Não há por perto quem chegue, quem parta;

Nem há quem acolher na madrugada.

É uma vida de vazios farta,

Repleta, assim, de nada e de ninguém

Com quem atenção há que se reparta.

Nem mesmo conversar não há com quem,

Sendo o som do silêncio o que reboa

No lar dos que da solidão, refém.

Há quem pense que assim a vida é boa

E outros que a tomem como pena;

Pesar da mão de Deus que nos perdoa.

Aos primeiros é certo que condena

Um atroz egoismo e vaidade,

A deixar de vícios a alma plena.

Aos demais, extremada humildade,

Que aos reclusos espíritos confere

De salvar-se ingênua vontade.

Engana-se quem dela assim infere.

Em verdade, nem prêmio nem castigo;

Solidão é a besta que nos fere

No socorro do patente grão perigo.

Rodrigues Aires
Enviado por Rodrigues Aires em 25/05/2020
Reeditado em 25/05/2020
Código do texto: T6958294
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