Contra tempo


Nada, somente nada,
do outro lado da porta,
do outro lado da vida,
contra o tempo,
do lado direito da rua,
contramão para quem desce.
Nada do outro lado da noite,
contra o vento
cansa o tempo,
rodamoinho lento.
Nada contra a vida,
tudo contra mim,
de encontro ao papel que voa
a hora, também não foi boa,
contra o relógio que parou,
na canção que subiu
contra o teto, pálido, em pouca luz.
Nada contra a maré,
nada do outro lado das vagas
que morrem contra a praia,
em cada grão de areia;
alheia,
uma espécie de saudade
chora em meu ombro
contra a solidão embutida nas rochas,
sendo beijada pelo oceano
sem nunca tê-lo retido.
Nada, somente, nada
do outro lado daquela porta,
solidão, solidão, desengano.