NOTAS ISOLADAS
(Milton Pires)
Ah... meus dias de isolamento…
de tempo parado porque minhas
noites repetem…dos livros
conhecidos de cor, histórias
que eu já me contei...
Tudo clama por novidade, por
trânsito, novos barulhos ...outras
visões... na Porto Alegre que dorme
sonhando com a cura d’ uma Epidemia
de razão pruma vida vazia esgotada por
nunca sofrer…
Num eterno domingo feriado
sem trabalho, sem colégio...sem
alegria dos jovens nem conversas
dos velhos que se despedem da
vida, dos sonhos da juventude
perdida que agora envelhece
tão rápido…sem netinhos
nos dias de sol...sepultada
sem choro nem dor...
Nestas “Notas do Subsolo”
que foi a minha vida eu não
sinto tanto este meu isolamento,
Eu escrevo mais por espanto do
que por lamento porque todo estranho
que eu sempre quis ser é agora um
pouco de mim, deste meu medo de
sair do isolamento que me acompanhou
numa vida infeliz...
Dessa vida de defesa que levei em
vão sonhando com amores perfeitos,
empregos mais justos...com tristezas
mais falsas dos enterros mais cheios...
A gente “sonha a vida inteira e só
acorda no fim”, já disse alguém
que não teve a coragem de sonhar
comigo, que só sonhou como pobre
bichinho que é comprado para nos
lembrar de Deus…
De que foi Deus que tudo isso nos deu...
que nenhuma Cruz pesa mais do que a
Dor do Amor que não repartiu, que
morreu entubado no fim...
Pior isolamento é só pensar
em mim, esquecer de quem
conheci, de quem já amei...
das causas de quem já morreu
vivendo sem nunca lutar...na
reclusão de uma vida sem dor
(mas também sem qualquer
amor)
De um Tempo que
nunca parou…
19 de abril de 2020.