MARIA-FUMAÇA
(Aos operários e velhos ferroviários gaúchos)
Como era linda a paisagem...
toda verde enflorescida,
marchetada do vermelho
da terra ensaibrada...
Sob um céu azul e um sol dourado
o trem passava...
todo negro...
se arrastando sobre os trilhos de ferro...
e bufando como um velho gordo e cansado
na subida da ladeira...!
– Feijão-feijão! Feijão-feijão!
Feijão-feijão! Feijão-feijão...
Soltando baforadas de fumaça branca
que ficava pendurada nos galhos do arvoredo,
como farrapos de gaze e flocos de algodão...
– Feijão-feijão! Feijão-feijão!
Feijão e milho! Feijão e milho...
Feijão e milho! Feijão e milho!
Batata e feijão! Batata e feijão!
Batata e batata! Batata e batata!
Batata e batata! Batata e batata!
Batata e batata! Batata e batata!
Vai passando na paisagem
Velho trem forasteiro
rodando no desfiladeiro
onde tudo é solidão...
Feijão-feijão! Feijão-feijão!
Feijão e milho! Feijão e milho!
Batata e feijão! Batata e feijão!
Batata e feijão! Batata e feijão!
Batata e batata! Batata e batata!
Batata e batata! Batata e batata!
Uva!
E cabeças de gado! e cabeças de gado!
E cabeças de gado e cabeças de gado!
E cabeças de gado e cabeças de gado...
Vai penetrando no túnel!
onde tudo é escuridão...
e saindo para o sol!
onde tudo é claridade...
E campos e campos! e campos e campos...!
Pensamento passageiro...
olhando pela janela
vertiginosamente...
E campos... e campos...
Feijão-feijão! Feijão e milho!
Batata e feijão! Batata e batata...
Uva...! Uva...!
Batata e carvão! Batata e carvão!
Batata e carvão... batata e carvão!
Bem-bom! Bem-bom!
Bem-Bom! Bem-Bom!
Solitária estação! Solitária estação...
Feijão-feijão... Feijão-feijão!
e campos e campos e campos e campos...
e cabaças de gado e cabeças de gado...
e Batata e batata e batata e batata
e Batata e carvão e batata e carvão...!
e batata e carvão...!
– Vai embora! melancólica poesia...
deixa em paz esse pobre coração...!
Porto Alegre-RS, março de 1986