Meu Banquinho

Não era de encher os olhos

Feio até, diria eu

Desgostado da vida

Amigo do breu

Um tanto bruto

Longínquo de qualquer que fosse beleza

Velho, vivido de um bom tempo

Mas visto o cansaço, ele era gentileza

Rústico por natureza

Desvairado de qualquer sedução

Chegado da tristeza

Conhecido da solidão

Por debaixo da sombra de uma amoreira

Jogado ao céu aberto

De qualquer proteção descoberto

Vivia meu banquinho de madeira

Feito às pressas sem nenhum capricho

Para abrigar os desconhecidos

No acento da curva, ponto na estrada

Vezes despercebido, lembranças esmagadas

Esse povo sem compaixão

Desprezava meu banquinho

Sempre à disposição

Mas eu quem tinha um carinho

Ah! Se um dia pudesse-me ser banco

Participar dos sorrisos e prantos

Escutar as angústias do meu próximo

Acredito que seria até mais humano

Se esse banco pudesse falar

Quantos “amores” acabariam

Quantos outros pudessem se encontrar

Quantos conselhos haveria de dar

Das risadas, embalaria junto

As tristezas, entregaria ao vento

Aos silêncios, preencheria com assunto

Aos apressados daria tempo

Talvez de todo não pôde se doar

Mas ele sempre dava um jeitinho

Constantemente na falta de carinho

Alguém do descanso poder desfrutar

Embora a dedicação de seu compromisso

Muitos matavam-lhe na memória

E tamanho homicídio

Fazia-lhe triste agora

“-Ah! Se vós humano destes valor

Ou até mesmo eu pudesse dizer

Quando detalhes simples lhe for

Felicidade em ti há de ser.”