MINHA NOITE

Minha noite

Regina Barros Leal

Perdida na substância do medo, quedo-me diante da dor

Tento romper o invólucro dos meus pensamentos em desalinho

Busco me alcançar e rasgo pedaços de mim em busca da inteira razão

Descubro-me na noite abissal da solidão humana

A depressão me veste em sua forma insensível e avassaladora

Não encontro nenhuma saída no insensato desespero

E minha alma despedaça-se pelo esforço da busca de mim mesma

Temo a vastidão infinda do desamor

Encontro-me em regiões desérticas, ressequidas e sem cor.

Um pranto sem fim.

Remédios, copos vazios, cabeceira desarrumada e meu pente em desuso.

E a angústia penetra lancinante no meu corpo já extenuado

Madrugada a dentro enrosco-me em pensamentos delirantes

Encontro a escuridão dos tempos e a aflição n’alma

Migalhas de vida em desassossego

Onde estão as rosas que enternecem e os amores que me preenchem?

E o perfume das tâmaras distantes? O sorriso da criança? Os beijos dos amantes?

O sol vermelho? Os ventos de verão?

Movida por algo indecifrável ainda alcanço a janela do quarto

Esforço desmesurado. Exaustão.

É dia.

O sol banha meus cabelos brancos despenteados

A manhã nasce exalando o perfume das rosas do jardim bem cuidado

A janela aberta e o cheiro da terra

Na mesa de cabeceira, os vestígios...

Será que um dia cantarei a melodia dos anjos?

Regina Barros Leal
Enviado por Regina Barros Leal em 09/04/2020
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