42 Pedaços

Estou trancado em casa

Já fazem 100 longos anos

Não sei mais o que vou encontrar lá fora

Aqui dentro

Tem muitas coisas

Todo dia me deparo com novas coisas velhas

Uma cadeira manca que foi esquecida no quarto dos fundos da minha mente

Um relógio quebrado que marca todas as horas ao mesmo tempo

Em uma sala de visitas que nunca recebeu ninguém

Meu revólver de espoletas

Estava enterrado no quintal da minha infância

Eu multiplico doenças psicossomáticas

Enquanto na balança os contras erguem os prós que a vida me deu

Só tenho números positivos

A multiplicarem sentimentos negativos

Não consegui fazer as pazes

Com meus fantasmas

Estão ao meu redor

De baixo de mim

Por cima da minha cabeça

Eles estão dentro de mim

Eu sinto os socos que eles dão contra as paredes do meu estômago

O gosto da morte está na minha boca

Eu tento engolir

Mas fica preso na garganta

Não desce

Me sufoca

Eu queria surtar e esvaziar

Queria pintar todas essas paredes brancas

Com o vermelho imundo do meu sangue pecador

Nada ficaria livre de mim

Eu seria o cheiro fetido nas narinas de alguém

Mas agora, na presente hora do pesadelo

Eu sou o átomo primordial do tudo

Pronto para explodir

Mas ao contrário da grande explosão

Eu não quero criar nada

Eu só quero explodir

Em malditos quarenta e dois pedaços

Zargo
Enviado por Zargo em 06/04/2020
Reeditado em 09/01/2024
Código do texto: T6907995
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