O RABI SOLITÁRIO

“Domingo de Ramos 2020”

Cavalgando o fiel jumento,

Como letra do triste fadário,

Envolto no seu pensamento,

Entra o bom Rabi solitário.

- Que se passa, ó velha cidade,

Ó garbosa Jerusalém?

Em cada rua na verdade

Já não se vê mesmo ninguém!

- Ninguém, vejam lá, quer dizer…

Por detrás de cada janela

Rostos fantasmas, estou a ver

E nada de luz junto dela.

Assim magicava o Rabi

Com lamentos da solidão

Que se sentia por ali

E ninguém sabia a razão.

Por toda a cidade deserta,

Nem até mesmo um cão-vadio

Ladrando, feito à descoberta

De algum osso assaz fugidio.

Por dentro das portas há vida

E palpitam mil corações

Chorando sua sorte escondida

No muro das lamentações…

- Ó Sião, minha velha Sião

Estás mui transida de medo?

Não receies e diz-me então

Qual a razão do teu Segredo.

- Anda o inimigo por perto

E nós já perdemos a Fé

Tememos, o qu´ é mais que certo,

Abandono do justo Javé!

- Voltai para o vosso redil,

No Reino do grande Senhor

Crede bem, vossa alma frágil

Ganhará um novo fulgor!

- Vossos ramos estão cortados

Mas há falta de quem os agite

E, entre vós, pobres coitados

Já não se vê quem acredite.

- Eu, cá, sou o vosso Rabi

Que iniciou esta Viagem…

Se vossos corações não abri,

É que não ´stá lá a mensagem.

- Voltai pois, voltai a cantar,

Almas ditosas de Jerusalém,

Voltai vossos ramos a agitar

Tereis de novo a Paz e o Bem!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 05/04/2020
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