arrepio tuareg

A alma que carrega o deserto,

Densa presença

Repleta de aura,

De brilho intrínseco

Luz que norteia o caminho

Farol em meio ao oceano

Diante da frase marcante

Sob a forte fonética árabe

Meu lado tuareg saltou

de dentro de mim, e empinando

um alazão foi desafiar o infinito

Foi testar a resistência

Como arte transcendental

Eu quase cobria todo rosto

Restavam apenas os olhos

O kajal dos olhos a

delinear um olhar reto,

E oblíquo posto que infeliz

Passeava num frio glacial

Onde os ventos de cristal

Arranhavam sem sangrar meus ossos

Repensava minha vida inteira

Nesse flash- relâmpago

Pipocavam imagens, cenas,

Pessoas como slides caóticos

Numa apresentação paradoxal

Sem som

Onde o único expectador era eu,

E o vento agonizante que

Repartia a rua comigo.

Numa solidariedade indiferente.

Carregar todo um deserto

Um silêncio profundo

Pleno de significados e parábolas

Uma solidão esticada até as sombras

E pulverizada pelas areias que formam as dunas,

Que se movimentam

Perfazendo coreografia perigosa e

ao mesmo tempo encantadora

Conversei com o desconhecido

E estranhamente parecia que há muito nos conhecíamos

Nunca o havia visto antes,

Mas seu olhar mourisco de rebuscamento fatal

Me acertou em cheio e me definia

com certa pureza e definição

Em menos de quinze minutos de assunto

Meu espírito se trajou completamente com os arabescos

Perfumou-se com sândalo

E sob o céu das mil e uma noites

Começou percorrer mentalmente as histórias contadas e

pressentidas

Histórias de amor, ódio e paixão

de romances impossíveis.

De explicações filosóficas ...

Como um tuareg estava quase toda vertida em negro

Minha sombra se escondia de mim

Temendo por minha sorte

Súbita sede me assalta a garganta

E compro a maior garrafa de água

que vejo.

Bebo quase rezando

E ainda úmida,

Transpiro palavras,

Esquadrinho teoremas

riscados no rascunho da avenida

perimetral

A vida não pode ser um rascunho.

Chega-se ao fim de muita coisa

O fim do fim.

Onde esperanças desaparecem

Onde o definitivo se impõe para todo sempre

Projetam manchas doloridas,

Cicatrizes rebeldes

A marcar de dor e agonia

O que um dia, foi poesia.

Eu queria plantar flores no deserto.

Sobe-me uma fúria homicida

Cheiro de cravos brancos

Inunda minhas narinas

De anunciação de morte

Meu véu cai lentamente

E o vento acariciando meu cabelo

Parece querer dizer-me algo

Num dialeto rusticano

Onde ouço novamente:

- A alma que carrega o deserto.

Arrepiante sensação.

Quente e fria

Densa e pontiaguda.

Presença e pesar.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/10/2007
Código do texto: T688994
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