Talos de Girassol
Esperar para sempre, não mais do que minutos, insólitos instantes em que toda memória passa, toda recordação se disfarça. E quem sabe tenha a sorte de se perder, o medo vença a vontade de voltar, e reste apenas um imenso jardim pra contemplarmos.
Bem me quer, mal me quer... O sol já enegrece em seu espaço gelado, artificial é sua boca que rosna sem vontade. As pétalas de uma nostálgica dor, girassóis, margaridas, toda flor. Ancorar em terras de louvor.
Desesperados na caverna, encontrei os talos de girassol. Sem vozes, mudos e expressivos pediam socorro. Um sôfrego gemido queria condenar-te. Por que podaste os ramos sem fim? Aonde estavam os olhos amarelos brotantes daquele ser?
Rasuras, letras apagadas na escritura... Mais uma carta pedindo perdão.
Não, não, não! Os restos de natureza no escuro não merecem perdão, a restrita busca de equinócios não cabe a quem mata por delírio.
Um sacrifício suave, sem pesares ou favores.
Palavras não trocadas, a certeza de que nunca mais acontecerá.
Um beijo do solo da mãe nascente, presenças... Não de girassóis, nem margaridas, da simples ausência que sem pena cultivaste.
Douglas Tedesco – 10/2007