A quem devo minha solidão?
Me sinto infinitamente solitário.
E o silêncio que a solidão me traz
- Tal qual esse desprazer mercenário -
Insiste em não me deixar em paz!
Fico sempre quieto, parado e mudo.
Imóvel, estático, como se fosse de mámore.
E mesmo que eu queira. Que eu grite ou chore,
O sentimento permanece, contudo.
À noite, a escuridão me leva à grima.
Porém, não derramo pena ou lágrima,
'Inda que lástimas não me faltem.
E num triste solilóquio, logo me pergunto:
A quem devo minha solidão? — Sentimento profundo. —
Ao amigo que me abandonou?
À amada que nunca me amou?
Ou ela é somente este vazio inato
que nunca me deixou?
A quem devo minha solidão?
A quem cravou essa chaga em meu peito
Fazendo arder meu pobre coração?
Àquela por quem choro em meu leito e
Por quem alimento tamanha ilusão?!
A quem devo minha solidão?
Sentimento que julgo não ser meu,
E que, por Deus, não queria ter.
Essa tristeza, que o coração não conteu
Agora eu consigo dizer:
Devo ela somente a você.