CALMARIA

CALMARIA

Pássaros passarão em nuvens brandas;

Em nuvens (ou em bandos…) pelo porto.

Alguém diz: "Pandas asas, velas pandas"…

A ver navios e aves quedo absorto.

Não parte o meu navio; ando a seguir

Por este cais ruidoso já sem pressa.

Esperar é o mesmo que existir.

Meu olhar todo o oceano ora atravessa.

Receios de partir; ânsias de chegar,

O coração se agita sem razão.

De novo os olhos pousam sobre o mar

E o que veem é de novo imensidão.

Pois se sucederão, dia após dia,

Manhãs em tudo idênticas já a esta:

Pássaros passarão sem alegria…

Navios abrirão velas sem festa…

Futuro é o presente repetido

À espera apenas da hora da partida.

A vida passa sem jamais ter sido

A promessa d'amor outrora ouvida.

Ainda que bons ventos me levem,

Pássaros passarão… (Que quimera!…)

As velas, como a vida, mal se atrevem

Sempre à espera da espera d'outra espera.

Vitória - 05 11 2005