sol multiplicado

queria ter respondido

mas me faltaram palavras

a voz emudeceu no próprio silêncio

sufocada na mágoa

queria ter atendido

lançado um olhar

mas a crueldade me cegou

diante tanta luz e brancura

queria ter partido

definitivamente

lacrado a porta,

vedado as frestas

e abrir o gás...

mas a explosão de sentidos

acordou-me torpe

em meio agonia

as pernas bambas erravam

trôpegas o passo,

desconheciam o caminho para morte

ou para paz

queria ter sorvido todo o veneno

daquela linda taça vermelha

mas, a sede dos desertos

deixou distante

e mergulhou-me num simples

copo d'água

lá fora, promessa de chuva

de frio, de reticências

nuas trajadas de surpresas

de tragédias anunciadas

queria ter impedido

evitado

o planeta poderia ser azul

a poesia poderia ser azul

mas azul também cianótico

sem oxigênio,

mas é o lirismo de morrer

intacto

trazendo no peito

apenas uma alma despedaçada

caquinhos translúcidos

e o sol se multiplica

bem rente ao chão.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/10/2007
Código do texto: T685023
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