confinamento

nesse quarto- confinamento

o calor parece bafio

o país, uma tribo estranha

a rua é uma guerra subliminar

desse quarto as vozes que

ouço se as ouço

são alaridos distantes

dores e cores desbotadas

pela distorção

e distância

sussuros incompreensíveis

navegam na sala, escorrem pelos corredores

banham ralos e me fazem

absurda, absorta

não há razão para se

prestar a atenção

animais patéticos

urinam marcando territórios

ou mascaram o fato

de serem de nenhum lugar

impregnam de cheiro e presença

a geografia solar

os espectros se confundem

e, eu aqui a matutar

em confinamento

livre e inatingível

recolhida e plena

em meu interior

a pensar

na estória da história

na mitologia além da verdade

com a calma interiorana

dos clãs extintos

há tanto de mim

nessas paredes

que me cercam

que mesmo quando desaparecer

definitivamente

restarão os vestígios,

rastros inapagáveis

de minha presença

não haverá mais perfume

mas continuará a primavera

não haverá mais verão

mas continuará o sol

a iluminar emoções

não haverá o frio sentido

em calafrios

mas continuará o inverno

e o sereno das madrugadas

a premiar os boêmios

com seu véu denso e gélido

nesse quarto-confinamento,

o cárcere das idéias

o seco dos sentimentos ríspidos

a arranharem as portas

a se degladiarem com as grades

da prisão

nada aprisiona a alma,

nem o corpo,

nem o tirano,

nem a infelicidade

o sol da tarde nos redime

o grito das crianças nos vinga

desse silêncio imposto

e, faço da minha poesia diária

um grito surdo

em direção

ao meu infinito aquartelado.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/10/2007
Código do texto: T684204
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