quem me dera
No amarelado antigo do retrato velho
teu semblante de satisfação impera
Quem me dera, quem me dera...
No teu sorriso franco me jactar da vida
No teu olhar cintilante me espelhar na lida
Me condenando agora ao abandono eterno…
Como se fosse ontem, um passado breve
Que inferno!…
A solidão causada por todo o ócio vago
De ter que viver, mas sem tua presença
Quem me dera, quem me dera…
Continuar existindo sem qualquer sentido
me sentindo fútil, entregue à loucura
de que há outros me esperando vivo!
Que amargura!…
Não ter continuado, não ter prosseguido
Perseguindo a vida, renovando as dores
Quem me dera, quem me dera
Não ter tido tempo, não ter tido amores
Se nenhum supera esse com desvelo…
Como se no fim, tudo se acertara
Que pesadelo!
É um remendo roto, sem cobrir a falha
Ainda sinto tanto a sua ausência infinda
quem me dera, quem me dera...
Ainda meio tonto esperar a marca
Para retirar o véu que a lembrança volta...
Na esperança morta, festejando a vinda…
Que revolta!
Acreditar nessa espera louca
De ver passar a vida, numa esperança parca
Quem me dera, quem me dera…
Alimentar as dores que na alma marca
Como um ferro em brasa que faz a moldura
Da violência farta que maltrata o íntimo…
Que loucura!
Ter a coragem de não mais fitar teu rosto
Neste retrato velho, de um colorido fosco
Quem me dera, quem me dera…
Se dessa história que guardei comigo
É esse o único resquício verdadeiro
Lembrança rara do meu martírio eterno…
Que desespero!