cansaço
ao luz do meio-dia
sob um forte calor
derretem-se todas as forças
a simbiose do corpo e o suor
intensa se espalha em odores
frestas e narinas
esconder o asco
conter a fúria das palavras,
a irremediável verdade cotidiana
catarses diárias contidas,
enjauladas na garganta
e num soluço
num espirro
tudo se solta
ou liberta.
diante desse sol
a sombra espreita a brisa
que não surge
o vento que desfaça
esse mal-estar
estou cansada
e fadiga de minhas retinas
dos gestos
torna tudo preto-e-branco
esse cansanço sobre os ombros
a desenhar o Atlas carregando o mundo,
o mundo cheio de culpa,
medos e frustrações
o cansanço e o lirismo
de ver poesia em tudo
em seus olhos
em sua sombra
no desenho da mesa
sedenta dos copos de cerveja
esse cansaço humano-divinizante
a nos tornar deuses e vencidos
de uma guerra interior.