cansaço

ao luz do meio-dia

sob um forte calor

derretem-se todas as forças

a simbiose do corpo e o suor

intensa se espalha em odores

frestas e narinas

esconder o asco

conter a fúria das palavras,

a irremediável verdade cotidiana

catarses diárias contidas,

enjauladas na garganta

e num soluço

num espirro

tudo se solta

ou liberta.

diante desse sol

a sombra espreita a brisa

que não surge

o vento que desfaça

esse mal-estar

estou cansada

e fadiga de minhas retinas

dos gestos

torna tudo preto-e-branco

esse cansanço sobre os ombros

a desenhar o Atlas carregando o mundo,

o mundo cheio de culpa,

medos e frustrações

o cansanço e o lirismo

de ver poesia em tudo

em seus olhos

em sua sombra

no desenho da mesa

sedenta dos copos de cerveja

esse cansaço humano-divinizante

a nos tornar deuses e vencidos

de uma guerra interior.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/10/2007
Código do texto: T683559
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