Por mim
Estranho sou eu que pareço nunca ter pouso.
Inquieto sou eu que vivo mergulhado em insatisfação.
Não sei se almejo errado ou se anseio demais.
Sei que estou cansado, que já não entendo meus passos.
De alguma forma amenizei minha grande rebelião,
Mas minha paz parece antes mórbida do que pacífica.
Não sei se tenho uma paciência que foi aprendida
Ou se me adaptei a uma estóica resignação.
Sei que sinto ter muitas sementes nas mãos,
Mas já não acredito no solo onde deveria plantá-las.
Talvez nisso esteja a sensação de sentir-me inútil,
Destituído de um objetivo, desprovido de um ideal.
Sinto-me como se fosse fogo que se aquieta em mornas brasas.
A maturidade visita-me e traz um tenso realismo,
E este embate-se com uma infantil ingenuidade de alma
Que a minha razão não conseguiu destruir.
Não sei se um dia de fato assim quis,
Ou se ela ficou viva ante a minha impotência.
Escravo de força maior que não consigo entender.
Não sei por que escrevo tanto,
Ante resultado tão pouco utilitário.
Talvez sejam tentativas de adaptação,
Um ajuste ao cotidiano,
De cuja adaptação plena sei que desisti.
Assim, é melhor ir se deixando levar pelo tempo,
Aceitando a luta franca, não economizando esforços.
Num combate sem sentido,
Num viver não vivido.
Nasci com o propósito de ser provisório.
A eternidade que suponho haver em mim
Não quer curvar-se para a efemeridade.
Todos os meus sentidos podem estar iludidos,
Mas o fato é que vivem a desafiar o meu cetismo.
Mais do que crer, sempre quis entender.
E por estranho que pareça,
É na busca deste “entender”
Onde encontro o maior prazer de existir.
Entretanto, percebo que o desvendar em mim
Já não é o impulso de um viril guerreiro obstinado,
É muito mais de um velho ermitão,
Curvado sob os limites do próprio corpo,
Cansado de um tempo que não chega ao fim,
Iludido com a ilusão da leveza de voar,
Da possibilidade de envolvente liberdade,
Desejando a despreocupação de ser feliz,
Mas querendo encontrar
a paz dos próprios pensamentos.
24/08/2002-21/11/2002