Inesperada
Quando esperavam o tapa
Eu estendi a mão
para ajudar
Quando esperavam um espinho
fui a flor
sem primavera no jardim
Quando esperavam de mim a lágrima
Eu lhes dei um sorriso matreiro
de quem ludibria a morte.
Quando esperavam minha alegria esfusiante
Fui branda e morna
Como um chá das cinco.
Frustei alguns,
magoei muitos
Doei-me a todos
ao meu modo.
No contratempo não fui arredia.
Fui apenas amiga e previsível
Mas durante a calmaria,
incendiei navios que
queriam partir os
nós da âncora.
Na profundidade do oceano
inexplorado
Fui metódica e didática
Como a luz do farol,
Como as bóias de alerta
Portando sinos estrondosos
A apontar abismos,
redemoinhos,
arrecifes.
Perigos constantes
ou imaginários
Ser assim tão imprevisível
Imprimiu um temor
quanto à minha pessoa
Era como se eu participasse
sempre do último ato da ópera,
ou da tragédia grega.
Quando esperavam de mim o mistério
Eu era óbvia.Absurdamente frontal.
Quando esperavam de mim,
o racional,
eu lhes oferecia
a minha faceta poética.
Virando todas as moedas
Conhecendo todas as caras e coroas,
E a sorte das roletas russas
que disparam sozinhas
bem no meio da madrugada cinzenta.
Fui inesperada
na esperança de vida.