Inesperada

Quando esperavam o tapa

Eu estendi a mão

para ajudar

Quando esperavam um espinho

fui a flor

sem primavera no jardim

Quando esperavam de mim a lágrima

Eu lhes dei um sorriso matreiro

de quem ludibria a morte.

Quando esperavam minha alegria esfusiante

Fui branda e morna

Como um chá das cinco.

Frustei alguns,

magoei muitos

Doei-me a todos

ao meu modo.

No contratempo não fui arredia.

Fui apenas amiga e previsível

Mas durante a calmaria,

incendiei navios que

queriam partir os

nós da âncora.

Na profundidade do oceano

inexplorado

Fui metódica e didática

Como a luz do farol,

Como as bóias de alerta

Portando sinos estrondosos

A apontar abismos,

redemoinhos,

arrecifes.

Perigos constantes

ou imaginários

Ser assim tão imprevisível

Imprimiu um temor

quanto à minha pessoa

Era como se eu participasse

sempre do último ato da ópera,

ou da tragédia grega.

Quando esperavam de mim o mistério

Eu era óbvia.Absurdamente frontal.

Quando esperavam de mim,

o racional,

eu lhes oferecia

a minha faceta poética.

Virando todas as moedas

Conhecendo todas as caras e coroas,

E a sorte das roletas russas

que disparam sozinhas

bem no meio da madrugada cinzenta.

Fui inesperada

na esperança de vida.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/10/2007
Código do texto: T681096
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