equação
assento-me sobre o muro
aqui do alto tudo é pensamento
e lá embaixo, tudo é chão
assento-me sobre a pedra
tão alta, tão limada
escorregadia
escorrem meus pensamentos sobre a pedra
corroem-lhe a forma
e numa nova estética
migram intuições arenosas
a se espalharem ao luz do dia
assento-me novamente sobre a ponte
e vejo a ligação impossível
e improvável
do distante ponto apagado
ao final de uma curva
a esse lado daqui
tão vizinho,
tão peculiar
percorro toda a ponte
para chegar ao longe
e descubro que a distância
está em nós,
nos vagos pensamentos retilíneos
sobre a vida e felicidade
corroem o ácido muriático
as esperanças e ilusões
do romantismo barato
não sobra nada.
A flor queria espalhar sementes
e disseminar suas espécies
sobre as lápides,
sobre os jardins,
sobre o asfalto
negro e impiedoso
A flor queria trair as raízes
e fecundar junto aos mariscos
e banhar-se na espuma do mar
aqui em cima desse muro
permanece mudo
matutando
sobre a pedra e a ponte
sobre o eclipse de amor
luzente
que incandesce
antes da expectativa da manhã
no mapa astral
há previsões insuspeitas
de romance irremediável
paixões controladas por sussurros
e a pedra,
o infinito
emolduram uma solidão em
minha vida
as flores remediam a saudade
da primavera
os astros aliviam a certeza
do amanhã e da morte,
brincam as previsões nos astros
e galáxias
de traçarem enigmas perfeitamente revelados,
amores transcendentes e
felicidades instantâneas
assento-me no topo da torre
vejo a floresta,
vejo além,
o mar sibilando à areia
esse segredo insondável
aqui em cima só há pensamentos e nuvens
lá embaixo só chão e trevas
decifrar o concreto pelo abstrato
é achar a equação da vida.
é achar o eu na ação.
sujeito e objeto.