O homem de dezembro
O homem de dezembro acorda no dia primeiro às 00:00 e ainda em estado dormente recebe o caixote. Já sente o peso do tempo do caixote que recebeu do homem de Novembro.
Este caixote foi entregue ao homem de Janeiro mais leve e agora está mais pesado do que nunca.
O homem de janeiro sempre promete jogar muita coisa fora e mais uma vez, mentiu!
Eis que, velhos conhecidos ainda estão aqui.
Maldito homem de janeiro, prometeu se livrar de tudo isso, ou pelo menos, começar a fazer alguma coisa, mas preferiu deixar nas mãos do homem de Fevereiro, que só pensa no carnaval.
O homem de dezembro que habita em mim, tem seu próprio caixote, que só ele carrega, é um peso extra que o tempo faz surgir junto com as luzes de Natal. O caixote das lembranças, trás dentro de si a melancolia e a tristeza de uma vida que não é mais, encontra na mente uma árvore de sombra larga para repousar e recordar seu passado.
O homem de dezembro carrega as cicatrizes de amores que morreram antes de ser alguma coisa. Por que os nascidos em berço de sagitário atiram as flechas do cupido e depois voam para longe.
Amaldiçoado homem de dezembro, testemunha da dor alheia. Viu a sombra da depressão que habitou minha avó, que de tristeza morreu e por egoísmo não pude me despedir. Miserável rotina, que em dezembros via a dor nos olhos da minha avó e o amor de minha mãe por ela.
Sofre o homem de dezembro, que viu o sangue correr para fora das veias, gotejando e pulsando sem esperança ou gloria. Sozinho no escuro diante de si e a beira do abismo.
Triste homem de dezembro, que recebeu o "sim", na cozinha e na mão direita pôs a aliança.
Triste homem de dezembro, que recebeu o "sim" diante do juiz e na mão esquerda pôs a aliança.
Triste homem de dezembro, que lamenta a carruagem que virou abóbora.
Maldito homem de dezembro, que arrasta minha cara no asfalto quente e me alivia a dor com água e sal. Encontrou um amor para chamar de seu e com flores laranjas a recebeu, montados em um dragão sorrindo e brincando nas nuvens.
O maldito deixou escapar de suas mãos a coragem para lutar pelo amor, e embora foi.
Velho amargurado homem de dezembro, encontra o companheirismo em uma loba solitária e a deixa ir. Suas mãos estão retalhadas e sangrando, já não é mais capaz de segurar ninguém nos braços.
O homem de dezembro carrega nas mão as areias do tempo, seus olhos se desesperam com cada grão que passa por entre os dedos, que vai embora junto com seus suspiros.