SILÊNCIO ENSURDECEDOR
Dos vazios que a vida traz,
alguns alheios à nossa vontade,
outros são méritos integrais da gente.
As arapucas do destino não têm dono,
não tem sentido, não tem métrica, não tem feitor.
Já as que cerzimos
têm dono, sentido, métrica, tudo.
Nos servimos dos pratos que preparamos
degustamos os quitutes e as nojeiras que trazemos à tona,
abraçamos o chãos que, calmamente, dispomos à frente.
Aqueles vazios mais absolutos,
que incrustam o entorno com silêncio ensurdecedor,
amolecendo a alma, descabelando pensamentos,
nos legando uma dor insistente e cruel,
é nossa própria cria, nosso próprio suor.
Apontar o dedo pro nada numa inquisição insana,
berrar até a morte nossa inocência farsante,
destituir regras, ditos, cheiros, gostos, tudo,
é prova irrefutável de que dedilhamos errado o soneto.
Pior é relegar à Deus esse fardo,
pior é fingir que fomos ingênuos e incautos,
pior é acreditar que erraram de destinatário,
pior é ler essa palavras e rir debochando do mundo.