ALÉM DE CATAVENTO

... Então ele acorda

Como quem sai de acordo

E pensa e aborda,

Diz de si, "Sim, mordo."

E mede a extensão,

Palmo a palmo, dessa dor

De estar em solidão,

Que só faz é decompor.

Condenado à eternidade

Ainda que sem morte ...

Ignoram ... fazem dele forte,

Dão-lhe plena liberdade !

Então, ele acorda,

Mais do que o costume,

Deram-lhe muita corda,

Todos oscilantes vaga-lumes ...

Assim, deixado, coração aceso

Qual lareira, ele prossegue,

Percebe "Sim, menos preso;

Eles cabalam, mas nasci jegue".

E aquele dia ainda não nascido

Indicava-lhe o estado dos demais

E na escuridão, ele sorria, teria rido

Quem em seu lugar vivia a paz.

Todo excluído assim no privilégio

De ser eterno antes do tempo:

De último, primeiro, no régio

Exercício de ser além de catavento...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 03/11/2019
Código do texto: T6785976
Classificação de conteúdo: seguro