O menino que lavava túmulos

O menino lidava bem com a vida.

Não tão bem com a morte.

A conhecia de perto.

Por isso se julgava com sorte.

Sua vida advinda do carnaval de Ouro Preto,

Fez pelo povo ter afeição e por ele também medo.

De família entendia que retornam a ti tarde ou cedo.

Via em cada flor pendura nas lápides o remorso de um segredo.

O menino era bom .

Mas na vida um hospedeiro.

O relógio grande o chutava

Então dos anos tinha medo.

Via nas lápides mensagens bonitas

Mensagens feias,

Mensagens falsas e verdadeiras.

Via de tudo o mais alto amor.

A mais baixa besteira.

Próximo do dia 2 viu algo fantasioso

Uma aparição .

Uma visão de louco .

A família chegando .

A família sorrindo .

Não estava chorando.

Não era a família que enterra.

Que de dessespero cai aos prantos.

Era a família que sorri .

Que volta pra agradecer o outro por existir.

Mesmo que naquele momento só como um monumento ali.

A família o chamou pelo nome.

Falou que a tristeza acabou .

Pediu com jeito que largasse a limpeza dos túmulos de Ouro Preto e fosse viver da sua arte.

Ele era pintor.

Como um pintor em madeira num cemitério encerra a carreira ? Quis saber sua mãe doente de saudade.

Ele falou calma há ainda mais mil pintores nessa cidade.

Ela sorrindo argumentou .

Ele já morreu.

A maldade o matou.

A vibração do sorriso do menino gaivotas a bera dos túmulos ressuscitou.

Então era essa a flor que ali ele plantou.

Feliz estava pela morte do seu avô.