Eu não quero atuar, eu quero ser
É perturbador
ser um maldito espectador
no teatro macabro
que é a morte em vida!
Se deparar, todos os dias,
com milhares de pessoas,
milhares de carcaças ambulantes,
que tiveram toda a vitalidade
e ambição drenadas
por essa força motriz implacável
que é a rotina.
As peles, cabelos e olhos passam
de uma miríade de cores á um cinza
doentio e nauseante.
Como bonecos decrépitos
de uma maquete arruinada.
Todo movimento
feito por esses sacos
de ossos, carne e sangue,
se assemelha a um roteiro
intrincado e monótono,
onde não há espaço para
improviso, onde só há
espaço para cumprir
papéis e esperar a
ultima fala. A ultima cena.
É ainda mais perturbador
ter a consciência do risco iminente
de sucumbir a essa onda de
apatia generalizada, a essa atrofiação
mental.
Eu não quero atuar, eu quero ser.