tais cabelos
teu cabelo molhado às costas nuas
lembra-me as sombras dos galhos contra o azul do céu
escorre o frio orvalho, partes do lago
que tu arrancaste da natureza e fizeste teu
é no pálido reflexo dos teus fios que deparo-me com meu desespero mudo
de contemplar a Beleza sem alçá-la
e percebê-la escorrer entre a maré do tempo
como teus fios que vão-se fazendo secos.
pudera eu retardar tal estado das coisas, este ir e porvir
que toma-me aquilo que absorvo como insignificante
e faz brotar em meu coração a perpétua semente do receio, alimentada a cada poente...
pudera eu. mas nada posso.
rendida ao meu fado da contemplação das coisas pelas coisas, da finitude e da desgraça, o ruir do cativante e de mim mesma
ponho-me a seguir as linhas de teus cabelos
numa vaga esperança humana que os centímetros se estendam ao infinito
como os galhos que habitam o céu da minha alma.