tais cabelos

teu cabelo molhado às costas nuas

lembra-me as sombras dos galhos contra o azul do céu

escorre o frio orvalho, partes do lago

que tu arrancaste da natureza e fizeste teu

é no pálido reflexo dos teus fios que deparo-me com meu desespero mudo

de contemplar a Beleza sem alçá-la

e percebê-la escorrer entre a maré do tempo

como teus fios que vão-se fazendo secos.

pudera eu retardar tal estado das coisas, este ir e porvir

que toma-me aquilo que absorvo como insignificante

e faz brotar em meu coração a perpétua semente do receio, alimentada a cada poente...

pudera eu. mas nada posso.

rendida ao meu fado da contemplação das coisas pelas coisas, da finitude e da desgraça, o ruir do cativante e de mim mesma

ponho-me a seguir as linhas de teus cabelos

numa vaga esperança humana que os centímetros se estendam ao infinito

como os galhos que habitam o céu da minha alma.

Zéfiro Alves
Enviado por Zéfiro Alves em 04/10/2019
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