Menina quase mulher da pele preta
Nascida em meio ao caos da comunidade suburbana
sem auxílios paternos suficientes
encontrou no seio da mãe um ser decente
que embora a amasse tanto
nenhum luxo a podia dar.
Desenvolvendo-se em meio a uma possível histeria
portando sinais claros de melancolia.
Aos 5 anos, seu primeiro abuso sexual sofria.
Desacolhida pela família
e acolhida pela própria companhia
aprendeu a se refugiar dentro da fantasia.
Salva pelo recalque
tornou-se extrovertida
engraçada, decidida
embora pouco compreendida.
Os pais melhoraram de vida
mudaram de casa para a chegada de Aninha.
Satisfeita com a nova companhia
entusiasmou-se com a possível cúmplice.
Que pena!
Eis que aparece o ciúme.
Refugia-se com os colegas na escolinha
passando lá mais tempo do que na própria casinha.
Mais um ano de vida chega
e como presente, um videogame
sente puro êxtase.
Contemplação misturada a solidão.
Transtorno obsessivo-compulsivo se torna uma espécie de proteção
mas, contra quem?
Sua amiga, a não elaboração
a faz refém de uma compulsão a repetição.
Inicia um auto ódio pela cor da própria epiderme
não entende jamais como pudera alguém
falar mal de algo teu tão banal.
Cresce em ti inusitadas indagações
algumas sobre porque não nasceu menino
e outras do porquê vir a ser.
Bem-vinda aos dez anos!
Opa, espere aí
pulamos dos onze para os doze anos.
Finalmente conheceu a tua primeira paixonite
teu melhor amigo que a instigaria
a trocar os desenhos na tv pelo prazer de ver o que os adultos detêm.
Vicia-se em consumos etários inadequados.
Inocência que se esvai.
Limerência que decai.
Mamãe e papai
finalmente alcançam a luz fora da caverna de Platão
pensam em alguma solução
para aquele infantil e (in)feliz sentimental coração.
Quem sabes não chegastes a hora
de Alessandra Gabriela viver realmente?