sempre eu

sou sempre eu que bato as portas

que recorro as trancas,as alfaias

e quando diante da possibilidade do abismo

dou um salto gigante

e me distancio habilmente

com olhar pleno de reticências fugidias

sou sempre eu que arrebento os nós,

que arremessa a âncora no fundo do mar,

que olha direto e fundo no outro

e diz tudo com absoluta naturalidade

como esse outro já o soubesse

e só aguardasse confirmação

sou sempre eu que extrematizo

que radicalizo

as emoções irrepetíveis,

as reflexões insofismáveis,

as imagens traumáticas

na trilha sonora do tempo.

sou sempre eu que enfrento

quisera eu hoje ser covarde,

ser mísera e mesquinha

e lhe negasse tudo,

a existência, a porta,

o abismo e

a saída das emoções

quisera hoje não ter olhos que

atravessam almas

que miram espíritos com a precisão de corpos

celestes no eclipse

quisera hoje poder ser confessadamente

fraca, torpe e inútil

quisera largar meu corpo, pinçar meus olhos

num gancho qualquer da estrada,

arremessar minhas palavras dentro do mais

poderoso silêncio

quisera hoje largar de vez esse fardo

de me sentir responsável por tudo,

por zelar pelos ausentes,

por auxiliar os incapazes

e de fazer da matéria-prima chamada ignorância

a luz , a direção e a alegria

de se descobrir diariamente

e aprender a aprender,

a ensinar e aprender, até que ,quem

aprende realmente já possa ensinar

quisera hoje poder lhe dizer

não as verdades cotidianas

e banais

trafegando urbanamente pelas vias

asfaltadas

mas aquelas arrancadas por um grito

extraídas do desespero genuíno

da sobrevivência

aquelas brotadas no solavanco do burrico

é tudo tão dé-jà vu

é tão dé-jà vécu

é a repetição do eco

que reverbera nas paredes da memória

são fósseis cíclicos,

ciclâmicos,

rodopiantes na compulsão

de viver

hoje, sob a chiva fininha

molhando pensamentos tórridos

medito esse meu jeito,

vejo a mim, como se eu não fosse

não me arrependo

não me culpo

e, continuarei a minha história

como uma saga ou esperança.

Não quero ser definitiva

Não quero ser transitória

Só não quero deixar de ser

o que sou,

o que irremediavelmente seria

e fatalmente será.

não quero deixar de ser eu.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/09/2007
Código do texto: T674189
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