DEFENESTRAÇÃO
 
Na laje fria, de uma Santo André gelada
Nesta noite de inverno rigoroso
Enquanto em silêncio, a cidade dorme
Eu velo, remexendo todos os contatos
De todos os aplicativos
À procura de alguém online
Alguém que me ajude a defenestrar
A solidão que me apanhou desprevenido
E me acompanha, infernizando a minha vida

O quarto é quente, a cama é confortável
Mas esta companhia (a solidão)
Que é a pior que existe
Em qualquer lugar, não me larga
Por isso vim pra cá. Talvez aqui
Escanchado nesta rede, nesta temperatura
Ela não se aproxime, ou de repente
Surja alguém online na rede. E rindo
Me dê boas notícias sobre o meu pai. Simples?
Nem tanto. Mas é o tanto que preciso
E é tudo. Pra hoje sim! Assim, quem sabe
Essa angústia passe e eu possa
Escrever (pra meu pai) um poema. ALEGRE

S. Paulo, 25/07/2019