Emoção secreta
Há uma pérola inédita dentro daquela concha
Submersa na imensidão do oceano
Há uma pedra polidamente verde
Pode ser esmeralda ou reflexo do limo
Pode ser granito ou mármore
Há um tesouro enterrado sob nossos pés
Repleto de riquezas insondáveis
Escondido dos olhos da cobiça
Das mãos da avareza
E de bocas indiscretas
Há um segredo gravado a fogo
E as cicatrizes não lhe contam a história
Revelam desenho misterioso de quedas
e tropeços
no tapete de ida.
Corpos tatuados com rosas e espinho
Corpos tatuados por alma em agonia
Incandescentes
Congelados pelo orvalho da manhã
Ou apagados com as lágrimas de agora
Mas há um pote do ouro no final do arco íris
Há uma lenda contada na infância
Memória de cheiros, cores e animação.
As chuvas mágicas que salvam flores mortas
O pó dourado transformador de alquimias
Talismã guardado e pendurado no pescoço
que dão sorte e alegria
A pérola negra solitária numa ostra
não-cometível é como
Espasmo e fóssil gravados nas pedras
Vida e morte consignadas lado a lado
Verdade feita de pedras, palavras
Pétalas e polens
Vento e chuva
Sol e mar
Há uma misteriosa razão de ser
e não-ser
Escolhida por nós, por nossa genética.
Por nossa história
Por nossas crenças, por nossos pais
As emoções irrepetíveis
Que guardamos saudades bem no fundo de nós mesmos
Inconfessáveis
Indecifráveis
Incompreensíveis
Até ao sujeito que deveria ser seu dono.
Tem vezes que o sujeito não passa
De objeto qualquer
do enredo abortado de um romance.