E só mais um amanhecer
Amanheço, só sei que resisti à noite
Aos cigarros e as bebidas baratas e,
as baratas desse quarto fétido.
Elas fogem, ao menor movimento.
Quisera eu, metamorfosear-me numa delas,
Imitando Kafka, dessa forma queria-me um louco,
Escorreria pelo ralo
não teria que cumprir a gravata
Registradas em cartão ponto,
De segunda a sábado.
Não precisaria de desculpas mal dormidas,
Nem tampouco, encarar o espelho e,
Meus olhos delatores, acusadores,
agourentos, vermelhos.
Nenhuma máscara me caberá mais, depois desse dia
Gosto das sarjetas e dos bueiros.
Aprendi a caminhar, nesse equilíbrio fúnebre,
Entre sobreviver, suportar ou morrer.
A claridade insiste em me alcançar,
Ultrapassa a cortina e me abocanha.
A violência do amanhecer,
Que faz sentir o crepitar dos ossos,
A pele macilenta ferida disforme, fede
Esse cheiro eu conheço,
O perfume podre, da solidão.
Espero a noite e seus assombros
Sobra me a sombra a parede o concreto,
O grito o inseto.
O castigo em amanhecer.
Lu Genez, 25\jun\19