Barco ausente de amor
Guio a rota pelo rio.
Da haste sem vela e sem manivela.
Corto as trilhas seguindo os
pequenos peixes.
Levo um pedaço da
minha e da sua história.
A paisagem reflete sobre as águas.
Apressadas escapolem por
entre os dedos.
Acomodo-me na roupa velha.
Deixo que tudo se vá...
Estou só, neste lugar
evasivo e desmilinguido.
Venha ligeiro.
Logo o sol se achega.
Traz sentido até num
pequeno gesto.
Dos lábios finos e sem riso,
pego firme no remo.
O vento vai sorrateiro, sem cais,
no ermo barco.
O destino esgota no eco da proa,
e eu, do fardo dolente que dorme
nos rios, em outra solidão alheia.
Luciana Bianchini