Quem sou?

Sou o medo dos casais que namoram,

Das noites negras sou a mais fria.

Quando chego não vou mais embora,

Sou a tristeza ao nascer do dia.

Estou sempre no olhar de quem morre,

Ou no leito úmido de quem adoece.

Sou como o riacho louco que corre,

Sou a angústia das mães na prece.

Sou a escuridão de mais um dia,

Sou a claridade da eterna noite.

Sou o calor que está na mão fria,

Sou no corpo a dor do açoite.

Sou a partida com o desejo de ficar,

Sou a morte no leve toque da vida.

Sou a dor de quem está a chorar,

Sou o vazio que fica na despedida.

Não sou a morte pois da vida faço parte,

Não sou a ausência, pois estou no coração.

Estou perto ou distante, na lua ou em Marte,

Sou mais que um nome, sou a negra solidão.