Inter-rompidos
(em parceria com a doce amiga Mônica Cordeiro)
Na vivência da ternura utópica
Acalorados sonhos e ideais indefinidos.
Quimeras de pétalas de rosas
Ao vento...
Um estímulo:
Às lavas dos sentidos.
Ao Norte,
clarões de chumbo abreviando a vida.
Ao Sul,
porões obscuros e choros incontritos.
Ao Centro,
mãos metafóricas arrancando o grito,
de pálidos rostos e corações aflitos:
- Liberdade!
Nas pontas de lâminas de aço
Vozes sufocadas
Ressurgiram tenazes
Num grito contra a ditadura.
Na multidão,
cerrando os punhos,
Bradando a liberdade
sem perder sua ternura, ela...
- Hola, mi comandante! - disse em serena delicadeza.
Abraçou-o ternamente, beijou seus lábios, sorriu.
Ele ensarilhou as armas naquele infinito instante...
Entre gás de choro, gritos de guerra e dor, ela sumiu.
...
No ardor da batalha travada
Entre bombas e dentes caninos
Foi arrastada para o porão.
Não sentia os braços, nem pernas.
Mãos deslizavam nas costas
Delineando as curvas do corpo trêmulo
Os calos arranhavam de modo conjunto
Em toques grosseiros, à força
A resistência era fruto do imaginário
Pois o corpo estava exangue.
Padecia no purgatório entre armas.
Os calibres formavam molduras
Lado a lado empilhados.
Numa sala escura, gotas de água gelada,
Homens de calças arriadas
E sangue!
Corpos violados sob o comando de vozes arbitrárias
Um sussurro disfarçado
E o ódio era o bálsamo derramado
Nas entranhas, de forma brutal,
Em movimentos de vai e vem
Sobrepostos por movimentos de entrada e saída.
O suor na pele,
Saliva e cuspe lançados na face,
O olhar de dominação.
Os restos de dor espalhados
Em lágrimas discretas
Sem som...
Silêncio mortal
Na Comissão da Verdade.
Era chegado o fim de sua procura:
As fotos espalhadas em diversos ângulos...
O pau de arara...
A retirada do capuz como oferta de insegurança...
A tortura, o estupro,
A morte como redenção.