“Prelúdio”

Roma 13/05/2019

Dizem que filósofo

É aquele que vê em tudo

Em cada detalhe do mundo

Cada paisagem

Sentimento a fundo

Cada parte de um momento

Pedaços do todo

Oportunidade de crescimento

Ensinamentos

Prelúdio

Pois tira de tudo

A cada segundo

Uma reflexão

Olhares únicos

Muitos suspiros

Superação

Lucidez

Do que seria lúdico

E eu

Que vivo nesse absurdo

Não sei se sou filósofo

Poeta

Ou maluco

Mas sei que sou profundo

Verdadeiro

Vagante

Em busca de rumo

Para não me afogar

Nessa imensidão

Minha divina falta de fundo

Me afundo

Descobri que a saída

Se encontra no escuro

Se comigo carregar

A luz que possuo

E dar nome para o que sou

Não importa

Não altera a obra

Talvez seja só uma aurora

Talvez uma prisão

De tantas

Fruto de um ego travesso

Aos avessos

Sem coesão

Mas para não me alongar

Perder o enredo

Hoje vim falar de solidão

Quem dera fosse algo

Que observo de longe

Que fosse só para os monges

E que não maltratasse tanto

Aos montes

Esse meu forte

Às vezes nobre

Um tanto mole

Coração

Ao falar de solidão

Seria injusto muitos lamentos

É fato que ela traz consigo

Muitos ensinamentos

Inegável

Como ao seu encontro

Cresço

Escrevo

Inevitável não tocar

Em suas mãos

Mãos que acariciam

Ensinam

Guiam

Judiam

Mas não sem um sentido

Uma profunda intenção

Pensando

Sobre esse sentimento

Sobre esses momentos

De completa

Aos olhos da matéria

Solidão

Fui levado a um encontro

Inesperado

Inspirado

Casual

Ou não

Uma imagem gritante

Ao coração de um viajante

Mas que nem todos podem ver

A muitos

Pouco importa

São dessas coisas

Que não vê

Aquele que só olha

Que não transcende

A própria

E simples visão

Enxergar não é sentir

Mas quem sente

Enxerga muito além

Muito além de si

De mim

De ti

Ela estava sozinha

Distante das outras

Suas iguais

Sua família

Tão parecidas

Encantadoras

Todas plenas

Cheias de folhas

De vida

Tão perto umas das outras

Pintando de verde

Aquela rua insossa

Pura harmonia

Primavera

Em sua sinfonia

Saudosa

Mas eu que tenho fascínio por simetria

Fui tomado por um sentimento inexplicável

Algo que a mim já foi raro

Mas cada dia mais sinto seus traços

Talvez seja a tão sonhada

Tão abandonada

Empatia

Por aquela árvore

Irmã terrena

Ali distante

Como se fosse esquecida

Distante das demais

Diferente de todas as outras

Suas folhas quase não se via

É como se lutasse para crescer

Assim como as outras

Mas ali sozinha

Precisa de muito mais energia

Persistência

Resiliência

Força

Para lutar contra a solidão

Contra a apatia

Dessa falta de companhia

Dessa vida

Para muitos

Injusta

Sofrida

Sim

A solidão nos deixa altos

Sem saltos

Nos faz crescer

Voar mais forte

Encontrar um norte

Andar descalços

Ensina que depender

É estar morto

Não se pertencer

Viver de sorte

Pior que a morte

Mas ai daquele

Que não deixa rastros

Que nela se demora

Não se recorda

De onde partiram seus passos

Do lugar de onde veio

Dos tão amados braços

Corações alados

E seus afagos

Tenho pena de nós

Quando ingratos

Pobres insensatos

Há de haver compaixão

Isso me fez recordar

De uma bela história

Com um final trágico

De um rapaz

Norte americano

E seus passos

Que buscou na solidão

Suas respostas

E que ao encontrá-las

Percebeu que o caminho

Que ele tanto procurava

De nada

Dela falava

A não ser por uma etapa

Mas que o percurso

A partida

E a chegada

São o amor

A companhia

E as mãos dadas

Mas era tarde

O destino

Ou o acaso

O seguraram

E antes de voltar

Aos seus amados

Morreu envenenado

Pelo passado

Angustiado

Mas deixou uma lição

Ao mundo

Podemos dar várias voltas

Podemos sim

Machucar aqueles que se importam

Mas não fechemos as portas

A solidão às vezes

É um caminho sem volta

Por isso

Cuidado com as escolhas

Perdoe mil vezes

E depois mais muitas outras

E se percebeu

Que deixou marcas

Em outras almas

Não se demore

Peça desculpas

E se refaça

Corrija as falhas

Perdão

Peça mil vezes agora

Peça perdão tantas vezes

Que o número não caiba em uma lousa

Nem em uma raiz quadrada

Nem ao menos em um bilhão de folhas

Mesmo sem lógica

E mesmo que não resolva

Não entendam seus atos

Que não seja ainda a hora

Ou que a terra

Para a semente

Ainda não esteja pronta

Perdoe

Desculpe

E siga sem ressalvas

Liberte-se das amarras

Do ódio

Do orgulho

Da raiva

Liberte a todos que puder

Da lei dos ciclos

Do karma

Personagem que disfarça

Pensamentos de vingança

Mágoas afogadas

E aqui sentado

Ao lado

Da minha amiga solitária

Quero enterrar

Qualquer resquício de magoa

Ressenimento

De aguá parada

Mágoas que foram

Sendo curadas

Repensadas

Transformei em solitude

A solidão que assustava

Que o Criador

Abençoe sempre

Nossas estradas

E que um dia você saiba

Em seus olhos

Vi muito mais

Do que imaginava

Do que escreveu

Tão magoada

Atormentada

Pelo orgulho e vaidade

Enganada

E enquanto insiste

Em falar sobre palavras

Aquelas que chama

Reflexos da alma

Eu te digo minha cara

Elas machucam

Mas atitudes são que matam

Talvez

Olhar meus olhos

Foi o que faltou

Era o que faltava

Tudo bem

Não mais importa

O que importa

É que nós dois

Sabemos das memórias

E que nunca fui

Quiçá serei

Mais um

Apenas um

Qualquer

Na sua história.

o sarto
Enviado por o sarto em 13/05/2019
Reeditado em 13/05/2019
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