Droga, eu quero sumir.
"Falam com você e você finge ouvir.
Finge completo interesse.
Você sorri, tenta demonstrar algum tipo de importância.
Te marcam em festas.
Malditos contratos sociais.
É preciso ir.
Repete pra si.
Te mandam mensagem.
É relevante, você precisa responder.
Repete para si.
Falam de suas vidas.
De coisas que você responde por fora.
Mas por dentro, não está ali.
Música deprimente no ouvido.
O fone é sua fuga voraz do mundo.
Quer se fechar num casulo.
Sair dali.
Tirar o dia de folga. A semana. O mês.
Ah, não.
É aniversário de um amigo.
Preciso ir.
Droga, queria furar.
Não posso, furei da outra vez.
Como era mesmo ser como antes.
Sentir vontade de estar ali.
Não fingir que não está exausto e que as pessoas em volta te agradam.
Droga, mais mensagem. Em que página parei mesmo?
Eu sei, eu sei.
Já estou te enviando o pacote.
Merda, perdi a hora do almoço.
Amanhã almoço certinho, prometo.
Só hoje, um sanduíche qualquer.
Só hoje.
Outra tarefa. Outro trânsito.
Acho que vou beber hoje.
Ah não, logo quando coloco o fone e dou um gole na cerveja.
Querem falar comigo logo agora?
O silêncio do quarto.
A inquietude da alma.
Minhas pernas ansiosas acompanham a bateria da música.
Eu quero ir.
Qualquer lugar.
Dizer adeus.
Quantos me mandariam mensagem?
Quantos reclamariam de novo da minha ausência?
Você sumiu.
Sim droga, sumi.
E, infelizmente, você me encontrou."