apenas ilusão
Para sermos belos
Precisamos dos olhos da amada
Da pessoa amada
Da criatura que inventa o afeto
Que gesticula o carinho
E transforma a farpa numa obra de arte
Esculpida ao vento, ao acaso
do lirismo suburbano
Das esquinas sem geometria
Dos encontros furtivos de olhos
Da coincidência de caminhos
Traçados na cabala do destino
Para sermos belos
e plenos
basta o horizonte
a contemplar em nós a vida
Ritual, cotidiana
banal e hirta
e que está em nós, além, aquém
Em ninguém e, em todos.
Ao mesmo tempo.
Nossos olhos retilíneos
esticam-se, espreguiçando-se em
toda extensão do horizonte
na busca da infinitude
da poesia
incontida
explícita
na beleza instantânea
na beleza solúvel
dos dias
chuvosos ou ensolarados
frios ou quentes
vividos, viventes
ou ainda a viver
futuro incerto, impreciso
enigmático
repleto de metafísica
e de lógica inverossímil
Para sermos belos
Não precisamos ser felizes
Não precisamos do tempo,
da geografia
da etnia
ou mesmp da existência
Tudo que queremos
É um segundo de atenção
E então toda beleza dos céus
Desce miraculosamente à terra
mortal e humana
Encarnada
em forma de gotas ou folhas,
sob dunas ou avalanches
Ao som de trombetas ou
de fonemas poéticos e líricos
das vogais de elisão
Interrogações mudas do espírito
serem apenas respondidas
pela ilusão.