apenas ilusão

Para sermos belos

Precisamos dos olhos da amada

Da pessoa amada

Da criatura que inventa o afeto

Que gesticula o carinho

E transforma a farpa numa obra de arte

Esculpida ao vento, ao acaso

do lirismo suburbano

Das esquinas sem geometria

Dos encontros furtivos de olhos

Da coincidência de caminhos

Traçados na cabala do destino

Para sermos belos

e plenos

basta o horizonte

a contemplar em nós a vida

Ritual, cotidiana

banal e hirta

e que está em nós, além, aquém

Em ninguém e, em todos.

Ao mesmo tempo.

Nossos olhos retilíneos

esticam-se, espreguiçando-se em

toda extensão do horizonte

na busca da infinitude

da poesia

incontida

explícita

na beleza instantânea

na beleza solúvel

dos dias

chuvosos ou ensolarados

frios ou quentes

vividos, viventes

ou ainda a viver

futuro incerto, impreciso

enigmático

repleto de metafísica

e de lógica inverossímil

Para sermos belos

Não precisamos ser felizes

Não precisamos do tempo,

da geografia

da etnia

ou mesmp da existência

Tudo que queremos

É um segundo de atenção

E então toda beleza dos céus

Desce miraculosamente à terra

mortal e humana

Encarnada

em forma de gotas ou folhas,

sob dunas ou avalanches

Ao som de trombetas ou

de fonemas poéticos e líricos

das vogais de elisão

Interrogações mudas do espírito

serem apenas respondidas

pela ilusão.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/09/2007
Código do texto: T661831
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