A Solidão Dorme de Pijama
Queimo poesia seca
para espantar a solidão.
Mas ela sempre se aconchega
me charuta em folha seca
e me pega pela mão.
Agora tudo é deserto
dentro do meu coração.
Caminho, eu a levo
a tiracolo, somos tão íntimos,
eu e a minha solidão.
Na casa da poesia,
eu sempre a saúdo:
Solidão, amiga, seja bem-vinda!
Já estava ficando com saudades.
(Isso eu falo baixinho para ela não
escutar. Vai que queira repouso
e também me jantar).
Mas entre, venha se sentar.
Palavrão Cabeludo vá buscar
serventia e trate de se pentear,
oh! menino teimoso!
E não me vá servir a nossa amiga
com coisa feia.
Ande, vá buscar o bálsamo
com Maria, e não me vá pelo caminho
xingando a poesia.
Nem vá dar delírios a mãos cheias.
Percebeu como já é antigo
nosso convívio?
Tome seu licorzinho,
é aquele seu preferido
depois do jantar.
Não se incomode, fique sentada,
eu acendo seu charuto, assim
podemos nos tragar.
Puxa! Já vai?
É cedo, menina, o Palavrão Cabeludo
ainda nem foi se deitar!
Bom: Compromisso é compromisso.
Mas volte sempre, é sempre um
prazer recebê-la na ponte, no mar,
no pôr-do-sol, no bar, e além do
horizonte.
E assim que ela sai,
o Palavrão Cabeludo se descabela.
Oh! menino genioso!
Já pensou se ela volta?
(Sétimo lugar no Concurso Internacional de Poesia).