OURO BRANCO
Banhou-se em águas escaldantes;
Vaso de flores no banheiro:
Mostrou-me o mesmo amor de antes:
Ardente, impune, asfixiante;
desesperados no chuveiro!
Vestiu a tez do matrimônio
E iludiu minha família;
O ouro branco era antimônio;
O puro amor foi mero hormônio;
Restou-me a mata e a matilha.
Jurou também amor eterno,
"Provou" que estava arrependida,
E disse-me, sorriso terno:
"Contigo vou-me até o inferno"!
"Contigo vou-me ao fim da vida"
Eu, inocente, fiz rodeios,
Ajoelhei-me até na praça,
Fiz na viola mil ponteios,
E na cabeça, devaneios:
Fiz da corrida toda graça!
Mas eis que as flores me mentiram!
Desenganou-me o tal chuveiro!
O ouro e o amor sucumbiram!
Os hormônios também fingiram,
E eu chorei o dia inteiro.