À NOITE, NA PRAÇA
Mais uma vez aqui nesta praça
Ao relento, sentada sob as árvores
A noite é sombria, escura, fria...
Minha cabeça é papel na escrivaninha dum jovem escritor
Aqui, estou cabisbaixo
A lâmpada falha pisca em sintonia com as minhas lágrimas
A brisa cai como o meu corpo:
Lento e devastado.
Há alguém observando de longe a pensar:
O que faria uma pobre moça num banco de praça, numa noite sombria?
Estaria perdida?
Bêbada?
Atentada?
Ah!
Apenas vislumbro o céu nublado
Comparo-o a minha solidão
Meu silêncio é um grito de poema
Não faço questão de presença
Pessoas pela metade
Quando me doou inteira
Que final absurdo me foi imposto
A cidade não me respeita
- Não sou moleque pra vagar pela rua -
E quem sou?
Já que ditam tudo?
Meu corpo pede whisky
Minha mente pede ausência do mundo
Meu eu, socorro
Não há em mim nada tão belo e pleno quanto a solidão
Tão pertinente...
Tão criticada...
Ah! Solidão...
Tenho gastado meu tempo em vão
A humanidade é pobre de tudo que minha alma clama
Sou poeta...
Pobres poetas
Morremos junto ao mundo cadente de poesia
Primeiro pediram arte
Fizemos arte
Depois perguntaram onde estava a arte
Disse-lhes:
Eis a arte!
Mas eles não viram nada
E retrucaram:
Sai daí idiota! Queremos arte, não esta bobagem de coração.
Meu pulmão gritou
Faltou-me ar para tamanho desprezo
Ah! Os idiotas!
Apresentei-os a arte
Respirando profundamente
E disse-lhes:
“Fechem os olhos, respirem, abram-se ao sentir e agora os olhos;
Eis a arte!”
Enquanto meu coração vibrava com a arte do viver...
Meu pulmão ofegava pelas críticas
Ah! Os idiotas
Lembrei-me onde estou
Quem sou
Sentada sob as árvores
Num banco de praça
Em minha plena solidão
Quão linda a arte de doer o peito e rir de si mesmo
Olham-me e dizem:
Coitada, está louca!
AINDA BEM!
Não queria padecer na sanidade da humanidade
Tragam-me whisky
E o beijo da pessoa amada
Tragam-me pessoas silenciosas que entendam o meu silêncio
Sou a causa que o mundo deverá ser sempre questionado...