Ensaio sobre a cegueira
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” José Saramago
O mundo segue cego
Afinado e sem afeto
O homem caminha em medo
O sistema aponta o dedo
Agravo! Afundo!
Na lama, o desespero
A natureza à esmo
Ao amor o inverso
Ao verso protesto
O mundo segue cego
Acabado no tempo
Agarrado por membros
Que desejam sugar os teus seios
Vender teus minérios
Usufruir seus esmeros
Matar o teus negros
E jogá-los nos becos
O mundo segue cego
Na pessoa o assédio
No amor o bloqueio
Na dor suicídio
No ódio extermínio
Corpos soterrados
Na lama desprezo
Mais VALE o dinheiro
Do que o afeto
O mundo segue cego
Olhares desviados
Corpos esquecidos
Poucos enriquecidos
Muitos empobrecidos
O ciclo é contínuo
Um povo sob domínio
De empresários e políticos
O mundo segue cego
O alimento pouco vivo
Veneno no prato
Gados por todo os lados
Abatidos e desprezados
Soja e pastos
Degrado ao cerrado
Mais pastos, mais postos
Mais exploração por petróleo
Mais veneno no solo
O mundo segue cego
Saramago já tem dito
Na metáfora de seu livro
Personagens do fim dos tempos
O medo, o comodismo, o fatalismo
A humanidade corre risco.