No tempo do jardim das flores tristes.

Nobre formiga

Muito cedo eu me acordei

E dei de cara com ela

Em sua eterna labuta

Inutil briga perdida

Por vida

Que não lhe pertence

Não liga pra quem a perde

e tampouco também lhe importa

Quem vence

Só luta

Tal modo, tão desprendida

Quão desprovida de nada

Que quase que me convence

a tentar imitá-la

Pobre cigarra

Se agarra a um sopro de vida

No galho da rama amarga

Vida afora se lastima

Em formato de canção

Pequena oração que não rima

E às vezes se cala

Até secar-lhe o coração

Pouco lhe importa

Quem colhe...ou quem planta

Só canta sua curta existência

Pra depois quedar, desarvorada

Acercada ao meu quintal

Onde a pequena rosa

Não tece e nem fia

desafia o mundo e a sua lógica

Num trágico colorido

Que aflora, monocromático

E de forma um tanto imprecisa

Quando é manhã

Meu triste olhar ela alisa

Prepara-me as vistas

Pr'outro longo dia

Sorumbático e sem conquistas

Tanto faz se as tive ou não tive

No tempo, hoje automático

Por pouco que não me contive

A tentar procurá-la

Num lugar onde não se a encontra

Nada se parte, nada se fica

Se possível, um tanto assim de arte

Não me importa se ela é ruim

Fraco sopro de vida que assim corre em mim

Um dia ainda há de ser boa

Enfim, sei que hoje é outro dia

de vida a viver-se à toa.

Edson Ricardo Paiva.