MINHA VERDADE INCONVENIENTE (poema em 4 atos)
I
DIA-A-DIA
No peito há vontades : Abraçar o mundo,
Ser o Atlas que suporta todo peso -
Peso doído desse doer pungente
Que corrói a todos lá no fundo;
Dores, amargores, doenças , medos -
O mal de toda gente ...
Há Jesus disposto ao sacrifício,
A fé (pendor a clamar-me que lute).
Todo freio aciono contra vícios,
Mas tornei-me terra arrasada, Beirute.
Há verdades que são melhores quando ocultas,
Desde cedo posto de lado com ojerizas
Ardor desmedido pelas coisas altamente cultas,
Avesso a telas que não sejam monalisas ...
II
SONHOS
Havia oceano : Bento e plâncton
Acenavam-me qual sereias,
Até moreias me namoravam...
A tudo mesmo quis no tanto,
Mas o meu barro era de areia
E os grãos dela manobravam.
Restou-me migrar ao solo terrestre.
Eis, então, toda causa desta angústia,
Em terra mata-se aquática acústica :
Como ser feliz, urbano ou campestre ?
III
PESADELOS
Pele avessa a toques e afagos,
Olhos ofuscados sob óculos,
Boca enojada de ósculos,
Sempre a ordem, seja magro.
Ouço mais, demais, ademã
Não há no que sou, quiçá
o olfato marear-me por maracujá,
Só suporto gosto de hortelã.
IV
A VERDADE
Do aquário observo os outros sempre nós
E eu sozinho antes, agora e após.
Coisas fáceis como socialização
Me são impossíveis, raras são.
Coisas difíceis como Química
Incorporei-as com simplicidade de mímica.
Q.I. nas alturas, razão predomina;
Débil sentimento quando expresso,
Conviver me sabe pantomina
E assim na vida me engesso.
Apanhei, tomado por capricho. birra,
Esse pavor pelas superfícies ásperas.
Pediam-me ouro, dispunha de mirra...
"Desculpa-me , tu, sou Asperger"