Sonho distante
Pronto, enfim aqui novamente. Imensidão de nuvens banhadas pelo vermelho sublime. Deste lado leste alí do céu, é como se um artista habilidoso com um píncel, desse uma leve esfumada de branco e cinza pelo véu.
Tudo bem, eu sei que está pensando em mim também... ninguém, apenas um ninguém que não entende tão bem. Fico em pé, com as mãos no bolso, e nesses próprios pensamentos me dissolvo.
Quantas crianças brincando ao meu redor, certamente, vocês não se sentem tão só...quanto eu. O tempo deu um tempo de vocês, mas espera... só queria ser criança outra vez.
Quantas vezes já sonhei acordado? Sobre as nuvens bem distante, teria uma cidade de ouro cintilante, onde tudo seria uma eterna festa! como aquela que viví quando bem jovem. Ou, apenas sentado sobre elas, somente eu e ela. Meus braços que envolvia seu corpo por trás... e seu cabelo que tocava em meu rosto. Olhava o oceano bem longe. E eternamente seguia. ninguém nunca mais, sim, nunca mais nos tocaria.
Ou, deitado sobre a borda minguante da lua, contemplando a inexata exatidão da solitude tão crua. Deixaria uma perna solta balançando, sem medo de cair, de morrer, ou me ferir. Sim, pois era tão jovem, tão jovem. Tão qual essas crianças que agora se vão com seu pais. Tentei conter essa lágrima, não era agora, não nessa hora. "O senhor está bem?" "Sim...perdão...venho aqui todo dia nesse mesmo horário, mas as vezes é difícil conter o que se guarda trancado."
A infância doce me reflete. Todo mundo se foi do parquinho alto da cidade, agora é noite outra vez... e é na noite que o espetáculo de luzes rasgam a escuridão. Devo ir também. Entorpecido por algo, que deva ser sono, ou a dor de um abandono. Uma alma feita de nostalgias e sonhos, que agora precisa de descanso. Por sobre a longícua cidade sobre as nuvens.