Era a coisa mais engraçada que existia
Era a coisa
Mais engraçada
Que existia
Se dizia ateu
Mas às vezes
Por alguns segundos
Ouvia a voz de
Deus
Dizendo-lhe para fazer o que
Adivinha?
Escrever poesia!
Mas olhava pra cima
E sorria
E depois falava
"Mon ami,
Nada se cria
Da noite pro dia "
E Deus respondia?
Claro que não
Eram versos grafados em aço
Embora concebidos no embaraço
De uma completa lucidez
Misturada com breves
Lampejos de esquizofrenia
Podia passar mil anos sozinho
Mas era ele próprio
Sua melhor e mais leal companhia
Não tinha medo de seus pensamentos
Então a solidão não lhe era um tormento
E o silêncio
Era tão agradável quanto
O caminhar num dia nublado
De final de tarde
Com o rosto ao vento
São esses momentos
Os que passam lentos
Como a cura de um ferimento
Que acontece o nascimento
Daquela fagulha de fogo
Que incendeia e inspira
A alma do poeta
Que não é nada mais
Do que o maior dos estetas
E com esse grande atributo
Percebe que a vida é incompleta
E a única coisa que liberta
E conforta
É a descoberta
Que a existência
Possa vir a ser
A coisa mais bela
E não como alguns a percebem
Fétida e mórbida