Era a coisa mais engraçada que existia

Era a coisa

Mais engraçada

Que existia

Se dizia ateu

Mas às vezes

Por alguns segundos

Ouvia a voz de

Deus

Dizendo-lhe para fazer o que

Adivinha?

Escrever poesia!

Mas olhava pra cima

E sorria

E depois falava

"Mon ami,

Nada se cria

Da noite pro dia "

E Deus respondia?

Claro que não

Eram versos grafados em aço

Embora concebidos no embaraço

De uma completa lucidez

Misturada com breves

Lampejos de esquizofrenia

Podia passar mil anos sozinho

Mas era ele próprio

Sua melhor e mais leal companhia

Não tinha medo de seus pensamentos

Então a solidão não lhe era um tormento

E o silêncio

Era tão agradável quanto

O caminhar num dia nublado

De final de tarde

Com o rosto ao vento

São esses momentos

Os que passam lentos

Como a cura de um ferimento

Que acontece o nascimento

Daquela fagulha de fogo

Que incendeia e inspira

A alma do poeta

Que não é nada mais

Do que o maior dos estetas

E com esse grande atributo

Percebe que a vida é incompleta

E a única coisa que liberta

E conforta

É a descoberta

Que a existência

Possa vir a ser

A coisa mais bela

E não como alguns a percebem

Fétida e mórbida

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 04/11/2018
Reeditado em 04/11/2018
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