poesia perdida

perdi a rima

perdi a poesia

perdi a metade de tudo

e assim partida ao meio

ao léu

continuo a flanar

perdi a palavra

banhada na água benta

perdi a expressão

sou um animal

cheio de dor e grunhido

minha face

é retorcida

minhas lágrimas

são gotas de náusea

e cansaço

perdi o rumo do deserto

o camelo morreu

o oásis distante

é lembrança

é brisa que se sente

no fim da primavera

mas ainda tenho a

lembrança

não tenho mais poesia

mas tenho o flash mágico

a clicar cenas, luzes, cheiros e

sabores instantâneos

de viver assim

tão urgentemente

tão sofregamente

não há mais oxigênio

em meu escafandro

não há mais santidade

em miha redoma

não há mais delicadeza

em meus dedos

em minha alma deserdada

perdi a rima

na ilha cercada de tubarões

no abismo secreto das senhas

perdi a poesia

no segredo dos dias comuns

encontrei a estranha alegria

em simplesmente estar

a flanar,

sobrevoar tudo

bem acima da imaginação,

dos limites

da música intrínseca dos pássaros

quem achar,

peço

favor acenar,

taquigrafar,

escrever,

tossir ou mesmo vomitar.

não importa,

torne e retorne a poesia para que

em tudo esteja... regurgitada

das almas diárias, das árvores velhas,

dos poetas ocasionais,

das crianças que brincam de amarelinha

e riscam o céu

como fim da estrada.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/09/2007
Reeditado em 11/09/2007
Código do texto: T648369
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