Últimos

Acenda o lampião,

prepare a lareira,

a tempestade se aproxima,

o vento já assovia lá fora,

não há mais tempo a perder,

não imagine silêncio e calmaria,

o universo não é pacífico,

a chuva bate na janela,

a porta balança,

não há segurança,

não existem garantias,

somos os últimos esquecidos,

eu e você buscando algo que nos salve,

quando já fizemos tanta coisa pela vida,

já fomos tantas personas,

já percorremos tantas jornadas,

tantas pegadas deixamos na areia,

jogamos ao mar as conchas do destino,

observamos na luz do farol um sentido,

noite e madrugada adentro ainda perguntamos o motivo,

mas sabemos que o caminho de volta é complicado,

a cidade que construímos está devastada,

as ruas estão vazias em mais essa tormenta,

entre raios e furacões só nós sobramos,

purgando os pecados de nossos atos,

não somos inocentes ou vilões,

não simplifiquemos nossa humanidade,

nossa pequenez é maior que um átomo,

dessa experiência molecular saímos vitoriosos,

conquistando o direito de respirar mais um dia,

quem sabe possamos ainda atravessar a ponte,

sair dessas paredes que nos aprisionam,

prontos ou não, o relógio não pára,

somos responsáveis por nossas escolhas,

negando ou afirmando ações estamos diante do futuro,

só nos cabe agora reescrevê-lo mais uma vez...