NEGRUME
Teceste o sol entre as têmporas
e recriaste um outro paraíso.
Partir daqui é preciso
enquanto me flamejar no peito
a chama sobreposta de um olhar perdido
em meio à solidão dos meus dias
entre perguntas que se emudeceram
e se perderam sem respostas.
Ah, vida arredia!
Enquanto a fumaça sobe,
a minha alma, em lágrimas, se esvazia.
O silêncio é um túmulo frio
no exílio em que me encontro agora.
E, se jamais me tornaste teu calafrio,
ainda me sobeja uma outra aurora.
E, as vísceras extirpadas deste lamento,
usurpa de mim a própria vida e,
ao solo sombrio que me é tormento,
viso-me no breu que me reparte em feridas.
***
©
Giovanni Pelluzzi
São João del Rei, 21 de Setembro de 2018.