Lembranças fartas de nosso silêncio

O que quiseres de mim já é teu.

Disseram-me, certo dia, que teu anjo era doce

como meu mel,

e que teus olhos olhavam para os meus

como se fossem teus.

Acreditei!

Meu coração, mentindo, me pôs em tuas palavras...

Ah! essas dadas e tão proibidas palavras

que ficaram mais em teus silêncios.

Hoje sou um servo teu.

Algum amor crescido preso,

algum desterro do passado que jamais amei.

Pois bem: sou teu derradeiro amor,

saibas disso.

Não um perverso amor prometido,

mas algum rarefeito amor

oferecido como a última refeição da eternidade,

quem sabe, um débito impagável que fiz

para mim mesmo,

um zelo da vida.

Lembra-te de nós dois, eu a te ensinar os passos,

colhendo-te nos braços como um pai e um homem...

Mais a servir do que ser servido?

O que há? O que houve? Sou o mesmo moço de ontem,

dono do mesmo amor doado no passado.

Se já não sonhas, aproveita e dorme

e dar-te-ei meus sonhos

que nos têm em seus cernes.

Por fim e em finalmente amor,

peço que não me faças provar de tua dor

porque continuo a amar-te, mesmo que aos prantos.