Caminhada noturna(Poema 20)

Naqueles passos dados em sepulturas antigas,

Rotas e miseráveis, naqueles passos dados em

Cemitério longo e rotineiro eu passo a noite

A lembrar de quantos mortos eu realmente conheci.

Quantos que realmente eu disse que viria e jamais

Fui ver... Ah, minha tanatofobia... Essa energia estranha,

Nojenta e amaldiçoada dos mortos... Essa palidez

Da tez que a mim incomoda... O sangue que nunca

Mais correrá pelos interstícios cerebrais e vênulas...

Nas tumbas rotas os nomes apagados são quase

Uma visão banal aos meus olhos... Acaso estou aqui

Apenas como um curioso para ler nomes de

Seres que nunca conheci e jamais conhecerei?

Nomes que para mim são apenas agora

Uma ossada crua e miserável, uma pletora de

Ossos desunidos unidos à terra negra e fétida.

Nas estátuas de anjos fito os acordes celestes

Guiando as almas dessas criaturas que jamais

Quiseram chegar a tal caminho... Sobre os túmulos

Ramos de margaridas, azevinhos e rosas despetaladas.

No inverno sulfuroso e letal... Os anjos miram

Os espectros a sair de seus túmulos como

Flâmulas escarlates e enegrecidas...

Na caminhada noturna o ar gélido

Corrói as hemácias saudáveis, os pulmões

Desaceleram em suas pleuras e a voz emudece

Enquanto mil pensamentos voam por todo o lugar.

Lua cinzenta de inquietantes clamores espectrais,

Lua uivando as maldições dos mortos enquanto

Os espectros murmuram pedidos absconsos...

Nas energias condensadas alguns se movem

Como crianças defeituosas e pulam pequenos

Saltos que levam a queda... Ah, que caminhada

Gloriosa essa a minha! Que mundo totalmente

Encantador se desfraldando diante de minha vista!

Esse mundo leva-me a lembranças antigas

Onde eu encontrava essas mesmas energias

Enevoadas em mim mesmo, ou mesmo em um

Mundo completamente dominado por estas

Forças... Quando minha alma elevar-se

A alturas píreas este mundo ainda será

Aquela lembrança obscura e vaga dos

Dias que caminhei por entre aqueles

Que muitos temem, mas poucos realmente

Conhecem suas essências e sonhos funestos!

Martin Schongauer
Enviado por Martin Schongauer em 09/08/2018
Reeditado em 02/05/2023
Código do texto: T6413754
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.